GENOMA PESQUISA

quinta-feira, 28 de maio de 2015

O trabalho em curso do Teatro Sagrado

O trabalho em curso do teatro sagrado

Aline Gomes
Jornalista MTB : 64010


Dispa-se de seus conceitos, de seus pré-conceitos e mergulhe no desconhecido. Esta é a melhor maneira de começar a ler Work in Progress (Literata, 2010, 146 páginas). O livro do teatrólogo e fundador da Companhia Teatro Genoma, Rodrigo Marcondes, convida-nos a uma viagem rumo ao teatro novo, à interpretação selvagem, a um turbilhão de instintos.
Inspirado história e obra do poeta francês Arthur Rimbaud, o autor iniciou sua jornada em busca de uma nova linguagem teatral, ou como por ele chamada, teatralidade ou teatro de essência, muitas vezes, duramente criticado por utilizar uma técnica totalmente nova, voltada ao teatro autoral, ao encontro do ator consigo mesmo, com o selvagem, sem reconhecer padrões, conceitos ou paradigmas.
O autor utiliza o Totem Animal como eixo principal, ou seja, cada ator busca o animal interior em estado selvagem dentro de cada personagem através de exercícios cênicos que transcendem os valores, costumes e visão dos atores, onde os mesmos liberam seu instinto animal e primitivo, deixando fluir a sua ancestralidade para, aos poucos, se liberar para as ações naturais, e como num ritual, permitir irromper a interpretação do ator-vampiro.
O ator-vampiro surge como a primeira teoria do Teatro Genoma. A expressão está relacionada ao processo de metamorfose do vampiro que se transforma em muitos animais, de acordos com os mitos e à sua sede por sangue, uma vez que o ator necessita absorver a essência humana e ao mesmo tempo a brutalidade animal para dar vida ao personagem.
O Teatro Genoma Work in Progress é a mistura do homem e sua ancestralidade, da animalidade e o sagrado, do ator e seu personagem na forma bruta e ao mesmo tempo lapidada. O livro propõe uma celebração cênica, a interpretação como um ritual sagrado que vai muito além dos textos, roteiros e técnicas duramente, o despertar do ator-animal, do personagem-selvagem para que fundidos em corpo e espírito, venham à luz do mundo místico do teatro.









quinta-feira, 21 de maio de 2015

O SUBSOLO E OS PORÕES DOS ESTUDANTES


Um personagem imerso em sua consciência que acredita ser uma doença, um provocador convivendo com seus ratos, suas mazelas, sua inércia calculada, sua luta interna para enfrentar o seu Muro de Pedra. Assim é o Homem do Subsolo. Fazer este espetáculo para estudantes do ensino médio tem sido um experiência única, um texto profundo, com reflexões provocativas, uma personagem que acaba sendo o reflexo interior de toda a humanidade. Há entre personagem e platéia uma conexão com desejos, anseios, pois todos acabam por realizar pequenos atos maldosos, afinal somos todos humanos. Este homem mau e doente, que isolou-se do mundo questiona toda a sociedade, o sistema público, a medicina, a ciência, e leva a platéia a refletir sobre a metafísica, Nos coloca a todos como Pilatos, lavando as mãos para as atrocidades que ocorrem no mundo atual. O riso, o drama, se misturam nesta relação ator/personagem e assim o fenômeno Teatral se estabelece. Não é a busca de uma mera emoção barata, mas sim de uma emoção profundamente reflexiva que ocorre nesta relação com os estudantes. E nesse momento que após o jogo cênico o ator entende a importância de trazer para os estudantes uma obra de Dostoievski e realizar este mergulho provocador, esta reflexão de quem somos nós nestes porões de estudantes.



quarta-feira, 13 de maio de 2015

PARA FALAR DO HOMEM DO SUBSOLO

Iniciei este processo no momento em que no ano de 2002 me encontrei com a obra MEMÓRIAS DO SUBSOLO de Fiodor Dostoievski, já havia realizado a leitura de outras obras de sua autoria como Crime e Castigo, O Idiota entre outros, mas foi nessa novela que vi a possibilidade do fazer teatral, foi um soco na boca do estômago. Então iniciei o processo da criação da dramaturgia, um trabalho solitário, árduo e difícil, pois como recortar uma obra tão rica e sintetiza-la em 50 minutos de espetáculo. Enfim consegui depois de muitas noites em claro e alguns anos chegar em um texto final que levaria para o palco em abril de 2005. Nesta primeira fase fui fiel ao livro e ao autor Dostoievski, pouco mudei, o texto era quase que uma adaptação fiel da obra Teatralizada por mim.
Neste mesmo ano, já após ter realizo algumas apresentações convidei o diretor Walter Stein para realizar uma supervisão cênica, que enriqueceu ainda mais o trabalho dramatúrgico em todos os sentidos.  Depois de dois meses de novos estudos e ensaios voltamos para o palco. Em seguida decido deixar em Novembro do mesmo ano de interpretar esta personagem e passa-la ao ator Fábio Massanet para então apenas dirigir esta criação. E assim permaneceu até o inicio deste ano de 2015, onde a minha inquietação de retomar os estudos como atuador dentro desta obra gritou em meu coração, e em final de Março, lá estava eu realizando O HOMEM DO SUBSOLO para estudantes do ensino médio da cidade de Praia Grande, mas agora com um amadurecimento e uma dramaturgia liberta, que apenas tem como ponto de partida a obra de Doistoievski.
Com liberdade dramatúrgica aproximo a personagem da realidade brasileira, o colocando de forma atual, com possibilidades de improvisos dentro desta narrativa pérfida, ácida, irônica e mordaz deste sujeito que vive em conflito com sua CONSCIÊNCIA, um  homem tão inteligente que não conseguiu chegar a nada. Um homem que sente prazer em afirmar que é maldoso, que questiona a ciência, a matemática, a humanidade, e a Vida. 
Em seu SUBSOLO cercado por seus ratos, interagindo com a platéia que se torna personagens deste ambiente obscuro do Porão da Consciência deste ser. 
Como técnica de atuação utilizo recursos da Máscara Totem Persona, utilizando os Animais de Poder, Alado, Dourado e Negro, pontos de tensão Híbridas, deixando os animais interferir em pontos culminantes de atuação. Um experimento de liberdade que nasce no porão de Dostoievski e cresce no Subsolo do atuador Rodrigo Marcondes que sem medo mergulha no Humor Negro em uma dramaturgia que vai do drama a comédia experimentando todas as possibilidades no jogo narrativo na experiência de atuar junto a platéia, buscando respostas, encontrando alternativas. Assim é o Meu HOMEM DO SUBSOLO, meu exercício cênico, meu rito de passagem, meu grito atual para a HUMANIDADE.