GENOMA PESQUISA

domingo, 2 de março de 2014

ARQUIVO: UMA ESTAÇÃO NO SILÊNCIO - 19 ANOS TEATRO DE GRUPO

 Saudações, no inicio do ano 2000, Rodrigo Marcondes iniciou a pesquisa e o processo de montagem do espetáculo Uma Estação no Silêncio, inspirado na vida e obra do poeta francês A. Rimbaud, e com esta montagem nasceu o processo interpretativo TEATRO GENOMA WORK IN PROGRESS, que colocará Marcondes como criador de uma metodologia teatral. Com esta montagem Marcondes foi citado por grandes nomes do Teatro brasileiro como Sergio Ferrara(Coordenador do Curso de Artes Cênicas da USP-São Paulo), a atriz Esther Goes, Isadora Faria entre outros como o futuro do Teatro Brasileiro, como um inovador da estética teatral realizada no Brasil, alem de ter ganho vários prêmios em Festivais no periodo de 2000/2001. Em 2011 Marcondes realiza novamente a montagem especialmente para participar como convidado do XV FESTAC – Festival de teatro de Cubatão, onde é comparado a grande criadora e diretora de dança-teatro PINA BAUSCH.
Iniciando este ano de 2014, projetando o ano de 2015, quando o grupo de Marcondes completa 20 anos de Teatro de Grupo e resistência Cultural, Marcondes reinicia o processo que o revelou para o Brasil como criador e pesquisador teatral e colocou Praia Grande no mapa brasileiro da produção teatral. Agora Uma Estação No silêncio está realizando o processo de ensaio e montagem, agregando novos elementos da linguagem teatral construida ao longo dos ultimos 14 anos, com o objetivo de realizar não somente uma obra teatral, mas um produto multimidia, que inclui o lançamento de um livro de exercícios do processo de montagem, bem como um video documentário com atores e atrizes da primeira montagem, da segunda montagem e da atual montagem.
Buscando realizar uma temporada regional na Baixada Santista, bem como uma temporada na Capital São Paulo, e viajar pelo país buscando os principais Festivais de Teatro do Brasil, bem como participar de festivais no exterior, revelando a obra mais completa do Teatro genoma para o mundo.
Aqui senhor empresário fica o convite para a ousadia, a paixão, a poesia, a participação de uma obra que busca o despertar, o desregramento de todos os sentidos.


Teatro Genoma


Praia Grande, 22 de Janeiro, de 2014.












ESTAÇÃO RIMBAUD



JUSTIFICATIVA

Reinventar o processo, redescobrir a essência por ora mecamizada, esta é a razão pela qual retorno como encenador -xamã ao rito de passagem UMA ESTAÇÃO NO SILÊNCIO, ou melhor dizendo o poeta mistico em estado selvagem, o mago simbolista, o menino poeta, a energia primordial de nossa criação o poeta francês Arthur Rimbaud.
Foi em Rimbaud que descobrimos o caminho, e é por ele que recorro agora para definitivamente experimentar todos os caminhos que descobrimos nos ultimos 13 anos, depois de sua primeira encenação.
Olhar para traz, e reencontrar Rimbaud é uma escolha ainda mais ousada do que foi, quando nada tinhamos alem de intuição e criatividade, é acima de tudo uma decisão corajosa de se reinventar outra vez, de buscar novamente a quinta essência, para assim cristalizar nosso processo interpretativo, descobrir novas possibilidades e responder a possibilidades antigas, acredito que esta é a estrada que nos levará onde jamais ousamos chegar, e que de fato estamos forjados para conquistar este inferno Rimbaudiano, ou seja o nosso próprio inferno, para sairmos desta estação dentro de nossas iluminações neste universo, e comungarmos com a platéia este momento ímpar.


Rodrigo Marcondes

Praia Grande, 18 de novembro de 2013.






SINOPSE

A obra poética de A. Rimbaud, nos traz os mais profundos sentimentos, este ícone da poesia universal que atravessou a barreira das línguas. Este poeta demoníaco, este gole de veneno do verbo que nos convida a beber em sua temporada no inferno e suas iluminações. Tudo isso nos levou a realizar o espetáculo UMA ESTAÇÃO NO SILÊNCIO, que é um exercício de traduzir a vida e a poesia de Rimbaud em formas, imagens, num jogo da expansão de nossa cinsciência de recriar, trazer à tona o verdadeiro animal que somos.
Buscamos uma teatralidade orgânica, através de uma linguagem simbolista onde colocamos o subterrâneo do inconsciente de Rimbaud através de personagens e imagens que se confundem com o inexpremível do silêncio, das vertigens deste poeta místico em estado selvagem.








Histórico da Montagem Anterior e Processo


A busca por uma teatralidade nasceu de uma inquietação constante de meu espírito, mas principalmente depois de ter me encontrado com a obra de Antonin Artaud, o seu teatro e a peste, o teatro da crueldade, seus signos e símbolos, suas ideias despertaram em meu espírito uma incansável busca por um teatro de essência. Havia acabado de realizar um espetáculo sobre Artaud, estava embriagado de suas ideias, como se o espírito de Artaud povoasse meu pensamento.
E foi exatamente nesse momento que ocorreu um encontro ainda mais avassalador para o meu processo criativo e, ganhei um livro de Alvarez de Azevedo, dentro deste livro havia uma página de um jornal antigo, era uma resenha sobre o poeta francês Arthur Rimbaud, ao ler sobre sua obra e sua vida, fui tomado de uma força descomunal, como uma lei da atração, no mesmo instante quis ler seus poemas, quis seus livros, seus dados biográficos, e vi em sua vida e em sua obra o ponto de partida para o meu fazer teatral.
Naquele momento eu tinha um elenco muito jovem, de uma oficina teatral, anunciei para eles que iria realizar o espetáculo UMA ESTAÇÃO NO SILÊNCIO, sobre a vida e obra de Rimbaud, escrevi um roteiro a partir dos fragmentos de sua obra, com cenas simbólicas sobre sua vida, convidei atores experientes para fazer parte deste processo, e intuitivamente iniciei um processo autoral de estética e interpretação
para essa montagem.

Eu precisava contar a história de Rimbaud, mas não poderia ser naturalista, pois Rimbaud era um poeta simbolista, então a partir da frase de Paul Claudel descrevendo Rimbaud, eu entendi o que deveria fazer. Claudel dizia que Rimbaud era um animal selvagem em estado místico. E foi o que determinei, eu queria a revelação do animal interior em estado selvagem de cada personagem, queria quebrar com o condicionamento, com o racional, queria os atores em suas personagens movidas pela liberação do estado instintivo, intuitivo e sensorial, sem a lógica racional. Cada ator teria o seu animal como totem de sua personagem, iniciamos um processo de exercícios na busca dos animais, o ator não poderia realizar a escolha do animal de forma racional, esse animal tinha que pedir para surgir na personagem. O animal escolheria a personagem, e não o ator.
Mas nos primeiros exercícios, os animais que surgiram, tinham semelhanças de personalidades com os atores, e não com as personagens, mas não era isso que eu queria, eu queria semelhança de personalidade com as personagens, e prosseguimos nessa busca, até que cada ator realizasse o encontro do animal com sua personagem. Finalmente conseguimos realizar esse encontro, e prosseguimos na realização do exercício cênico Uma Estação no Silêncio. Os atores surgiam na cena como animais, e permaneciam assim, realizando o que chamamos tecnicamente de hibridismo. Eu ainda não tinha esses termos, nem a consciência exata do que estava acontecendo, mas todos que viam este trabalho percebiam que ali tinha um trabalho autoral, o surgimento de uma linguagem, o principio de uma criação cênica. Em um determinado Festival, o júri que estava presente, debateu, indagou, questionou, e revelou que nossa obra era o futuro do teatro brasileiro, era um teatro novo, e por ser algo novo, as pessoas não iriam aceitar facilmente, que nós iríamos ouvir em nossa jornada, que o nosso trabalho não era teatro. E isso ocorreu muitas vezes, mas foi a partir desse dia, que obtive a consciência do que estava ocorrendo e do que havia sido conquistado, então prossegui na busca de tornar isso
de fato, uma teatralidade a serviço do ator.



O ponto de partida já havia ocorrido, agora era preciso desenvolver o que foi descoberto de forma intuitiva e instintiva para um processo técnico em auxílio à interpretação do ator e percorrer novamente os caminhos do processo de Uma Estação no Silêncio para compreender e se apropriar do que havia sido realizado.
Eis a tarefa mais árdua, teorizar aquilo que já tínhamos concretizado na pratica. Assim retornei a sala de ensaio, e reiniciei todo o processo de montagem do espetáculo sobre Rimbaud, agora com um novo elenco, e através desta atitude, surge a primeira teoria do Teatro Genoma, a Filosofia Estética Teatro Dos Vampiros, que faz surgir o ator-vampiro.

Por quê o vampiro?

Racionalizando o processo empregado no exercício de Rimbaud, reavaliando a frase de Claudel sobre Rimbaud – animal selvagem em estado místico – não há outra criatura mais mística e ao mesmo tempo selvagem do que o próprio vampiro.
Então iniciei um mergulho sobre o mito dos vampiros, as lendas, as histórias, quanto mais eu pesquisava, mais tinha certeza de que o ator deveria ser um vampiro. Todo o mito do vampiro o relaciona ao poder da metamorfose, ele pode se transformar em um morcego, ou lobo, enfim há mitos em que o vampiro pode se transformar em qualquer animal que desejar. Essa metamorfose vampírica é o ponto comum com o que eu havia realizado no exercício de Rimbaud, os atores tinham que realizar uma metamorfose com animais.
Ao identificar esse ponto, parti para buscar outras questões em comum, do homem ator, com o homem vampiro. O vampiro necessita de sangue para se alimentar, principalmente do sangue humano, o ator necessita absorver os acontecimentos da humanidade para acrescentar ao seu trabalho. O vampiro vive nas trevas, o ator necessita estar nas trevas, para a personagem vir para a luz. Foi nessa ideia que denominei o ator do meu teatro, como ator-vampiro, e assim a Filosofia Estética Teatro dos Vampiros.
Mas para o ator se tornar um ator vampiro, é necessário um desregramento de todos os sentidos, um exercício contínuo, na busca do cotidiano e da quebra do mesmo. A quebra do cotidiano é a transformação desse ponto em arte, e arte tem sua própria linguagem, seu próprio estado. O cotidiano pode nos trazer uma rotina viciosa, que nos torna inertes, é exatamente essa inércia que temos que transformar em movimento sagrado e contínuo, para a realização da ação dramática.
Chamamos isso de Deslocamento do Cotidiano. O Deslocamento do Cotidiano é dar uma nova dimensão a um acontecimento comum, a dimensão do estado interior, ou seja, sagrar este acontecimento de forma única e genuína, tornando sagrado através do movimento e da utilização do extra cotidiano, que é o Totem Animal.
Por exemplo: Rimbaud sagrou-se um grande poeta aos quinze anos com a carta do vidente. Entre os dezessete e dezoito anos escreveu seus livros Uma Temporada no Inferno e Iluminações. Viveu um escandaloso romance com o grande poeta Paul Verlaine, depois abandonou a poesia e foi viver na Abissínia no continente africano, onde se tornou traficante de armas.
Esse é o cotidiano comum do poeta, como realizar a quebra deste cotidiano ? E narrar com a mesma beleza de seu acontecimento dentro do nosso teatro? Partindo da ótica interior de Rimbaud, a sua caverna interna, é ali, e é ali que o ator deve morar, para trazer o deslocamento do cotidiano. Depois realizar a escolha do totem animal, vivenciar esse mesmo cotidiano na dimensão do tempo, espaço artístico, isso por si só já recria o dia-a-dia, e o torna sagrado. O ator-vampiro deve absorver todo esse estado selvagem interior e transformá-lo em ação. Mas não numa ação comum, ele tem que transmutá-la em uma ação extraordinária, realizando desta forma o fenômeno.