Iniciando
este ano de 2014, projetando o ano de 2015, quando o grupo de
Marcondes completa 20 anos de Teatro de Grupo e resistência
Cultural, Marcondes reinicia o processo que o revelou para o Brasil
como criador e pesquisador teatral e colocou Praia Grande no mapa
brasileiro da produção teatral. Agora Uma Estação No silêncio
está realizando o processo de ensaio e montagem, agregando novos
elementos da linguagem teatral construida ao longo dos ultimos 14
anos, com o objetivo de realizar não somente uma obra teatral, mas
um produto multimidia, que inclui o lançamento de um livro de
exercícios do processo de montagem, bem como um video documentário
com atores e atrizes da primeira montagem, da segunda montagem e da
atual montagem.
Buscando
realizar uma temporada regional na Baixada Santista, bem como uma
temporada na Capital São Paulo, e viajar pelo país buscando os
principais Festivais de Teatro do Brasil, bem como participar de
festivais no exterior, revelando a obra mais completa do Teatro
genoma para o mundo.
Aqui
senhor empresário fica o convite para a ousadia, a paixão, a
poesia, a participação de uma obra que busca o despertar, o
desregramento de todos os sentidos.
Teatro
Genoma
Praia Grande, 22 de Janeiro, de
2014.
ESTAÇÃO
RIMBAUD
JUSTIFICATIVA
Reinventar o processo, redescobrir a
essência por ora mecamizada, esta é a razão pela qual retorno como
encenador -xamã ao rito de passagem UMA ESTAÇÃO NO SILÊNCIO, ou
melhor dizendo o poeta mistico em estado selvagem, o mago simbolista,
o menino poeta, a energia primordial de nossa criação o poeta
francês Arthur Rimbaud.
Foi em Rimbaud que descobrimos o
caminho, e é por ele que recorro agora para definitivamente
experimentar todos os caminhos que descobrimos nos ultimos 13 anos,
depois de sua primeira encenação.
Olhar para traz, e reencontrar Rimbaud
é uma escolha ainda mais ousada do que foi, quando nada tinhamos
alem de intuição e criatividade, é acima de tudo uma decisão
corajosa de se reinventar outra vez, de buscar novamente a quinta
essência, para assim cristalizar nosso processo interpretativo,
descobrir novas possibilidades e responder a possibilidades antigas,
acredito que esta é a estrada que nos levará onde jamais ousamos
chegar, e que de fato estamos forjados para conquistar este inferno
Rimbaudiano, ou seja o nosso próprio inferno, para sairmos desta
estação dentro de nossas iluminações neste universo, e
comungarmos com a platéia este momento ímpar.
Rodrigo Marcondes
Praia
Grande, 18 de novembro de 2013.
SINOPSE
A
obra poética de A. Rimbaud, nos traz os mais profundos sentimentos,
este ícone da poesia universal que atravessou a barreira das
línguas. Este poeta demoníaco, este gole de veneno do verbo que nos
convida a beber em sua temporada no inferno e suas iluminações.
Tudo isso nos levou a realizar o espetáculo UMA ESTAÇÃO NO
SILÊNCIO, que é um exercício de traduzir a vida e a poesia de
Rimbaud em formas, imagens, num jogo da expansão de nossa
cinsciência de recriar, trazer à tona o verdadeiro animal que
somos.
Buscamos uma teatralidade
orgânica, através de uma linguagem simbolista onde colocamos o
subterrâneo do inconsciente de Rimbaud através de personagens e
imagens que se confundem com o inexpremível do silêncio, das
vertigens deste poeta místico em estado selvagem.
Histórico
da Montagem Anterior e Processo
A
busca por uma teatralidade nasceu de uma inquietação constante de
meu espírito, mas principalmente depois de ter me encontrado com a
obra de Antonin Artaud,
o seu teatro e a peste, o teatro
da crueldade, seus
signos e símbolos, suas ideias despertaram em meu espírito uma
incansável busca por um teatro de essência. Havia acabado de
realizar um espetáculo sobre Artaud, estava embriagado de suas
ideias, como se o espírito de Artaud povoasse meu pensamento.
E
foi exatamente nesse momento que ocorreu um encontro ainda mais
avassalador para o meu processo criativo e, ganhei um livro de
Alvarez de Azevedo, dentro deste livro havia uma página de um jornal
antigo, era uma resenha sobre o poeta francês Arthur
Rimbaud, ao ler sobre
sua obra e sua vida, fui tomado de uma força descomunal, como uma
lei da atração, no mesmo instante quis ler seus poemas, quis seus
livros, seus dados biográficos, e vi em sua vida e em sua obra o
ponto de partida para o meu fazer teatral.
Naquele
momento eu tinha um elenco muito jovem, de uma oficina teatral,
anunciei para eles que iria realizar o espetáculo
UMA ESTAÇÃO NO SILÊNCIO, sobre
a vida e obra de Rimbaud, escrevi um roteiro a partir dos fragmentos
de sua obra, com cenas simbólicas sobre sua vida, convidei atores
experientes para fazer parte deste processo, e intuitivamente iniciei
um processo autoral de estética e interpretação
para essa montagem.
Eu precisava contar a história de Rimbaud, mas não poderia ser naturalista, pois Rimbaud era um poeta simbolista, então a partir da frase de Paul Claudel descrevendo Rimbaud, eu entendi o que deveria fazer. Claudel dizia que Rimbaud era um animal selvagem em estado místico. E foi o que determinei, eu queria a revelação do animal interior em estado selvagem de cada personagem, queria quebrar com o condicionamento, com o racional, queria os atores em suas personagens movidas pela liberação do estado instintivo, intuitivo e sensorial, sem a lógica racional. Cada ator teria o seu animal como totem de sua personagem, iniciamos um processo de exercícios na busca dos animais, o ator não poderia realizar a escolha do animal de forma racional, esse animal tinha que pedir para surgir na personagem. O animal escolheria a personagem, e não o ator.
Mas
nos primeiros exercícios, os animais que surgiram, tinham
semelhanças de personalidades com os atores, e não com as
personagens, mas não era isso que eu queria, eu queria semelhança
de personalidade com as personagens, e prosseguimos nessa busca, até
que cada ator realizasse o encontro do animal com sua
personagem. Finalmente
conseguimos realizar esse encontro, e prosseguimos na realização do
exercício cênico
Uma Estação no
Silêncio. Os atores
surgiam na cena como animais, e permaneciam assim, realizando o que
chamamos tecnicamente de
hibridismo. Eu ainda
não tinha esses termos, nem a consciência exata do que estava
acontecendo, mas todos que viam este trabalho percebiam que ali tinha
um trabalho autoral, o
surgimento de uma linguagem,
o principio de uma criação cênica. Em um determinado Festival, o
júri que estava presente, debateu, indagou, questionou, e revelou
que nossa obra era o futuro do teatro brasileiro, era um teatro
novo, e por ser algo
novo, as pessoas não iriam aceitar facilmente, que nós
iríamos ouvir em
nossa jornada, que o nosso trabalho não era teatro. E isso ocorreu
muitas vezes, mas foi a partir desse dia, que obtive a consciência
do que estava ocorrendo e do que havia sido conquistado, então
prossegui na busca de tornar isso
de
fato, uma teatralidade
a serviço do ator.
O
ponto de partida já
havia ocorrido, agora era preciso desenvolver o que foi descoberto de
forma intuitiva e instintiva para um processo técnico em auxílio à
interpretação do ator e percorrer novamente os caminhos do processo
de Uma Estação no Silêncio para compreender e se apropriar do que
havia sido realizado.
Eis
a tarefa mais árdua, teorizar aquilo que já tínhamos concretizado
na pratica. Assim retornei a sala de ensaio, e reiniciei todo o
processo de montagem do
espetáculo sobre Rimbaud, agora com um novo elenco, e através desta
atitude, surge a primeira teoria do Teatro
Genoma, a Filosofia
Estética Teatro Dos Vampiros,
que faz surgir o ator-vampiro.
Por
quê o vampiro?
Racionalizando
o processo empregado no exercício de Rimbaud, reavaliando a frase de
Claudel sobre Rimbaud – animal selvagem em estado místico – não
há outra criatura mais mística e ao mesmo tempo selvagem do que o
próprio vampiro.
Então
iniciei um mergulho sobre o mito dos vampiros, as lendas, as
histórias, quanto mais eu pesquisava, mais tinha certeza de que o
ator deveria ser um vampiro. Todo o mito do vampiro o relaciona ao
poder da metamorfose, ele pode se transformar em um morcego, ou lobo,
enfim há mitos em que o vampiro pode se transformar em qualquer
animal que desejar. Essa metamorfose vampírica é o ponto comum com
o que eu havia realizado no exercício de Rimbaud, os atores tinham
que realizar uma metamorfose com animais.
Ao
identificar esse ponto, parti para buscar outras questões em comum,
do homem ator, com o homem vampiro. O vampiro necessita de sangue
para se alimentar, principalmente do sangue humano, o ator necessita
absorver os acontecimentos da humanidade para acrescentar ao seu
trabalho. O vampiro vive nas trevas, o ator necessita estar nas
trevas, para a personagem vir para a luz. Foi nessa ideia que
denominei o ator do meu teatro, como ator-vampiro, e assim a
Filosofia Estética Teatro dos Vampiros.
Mas
para o ator se tornar um ator vampiro, é necessário um
desregramento de todos os sentidos, um exercício contínuo, na busca
do cotidiano e da quebra do mesmo. A quebra do cotidiano é a
transformação desse ponto em arte, e arte tem sua própria
linguagem, seu próprio estado. O cotidiano pode nos trazer uma
rotina viciosa, que nos torna inertes, é exatamente essa inércia
que temos que transformar em movimento sagrado e contínuo, para a
realização da ação dramática.
Chamamos
isso de Deslocamento do
Cotidiano. O
Deslocamento do Cotidiano é dar uma nova dimensão a um
acontecimento comum, a dimensão do estado interior, ou seja, sagrar
este acontecimento de forma única e genuína, tornando sagrado
através do movimento e da utilização do extra cotidiano, que é o
Totem Animal.
Por
exemplo: Rimbaud
sagrou-se um grande poeta aos quinze anos com a carta do vidente.
Entre os dezessete e dezoito anos escreveu seus livros Uma Temporada
no Inferno e Iluminações. Viveu um escandaloso romance com o grande
poeta Paul Verlaine, depois abandonou a poesia e foi viver na
Abissínia no continente africano, onde se tornou traficante de
armas.
Esse
é o cotidiano comum do poeta, como realizar a quebra deste cotidiano
? E narrar com a mesma beleza de seu acontecimento dentro do nosso
teatro? Partindo da ótica interior de Rimbaud, a sua caverna
interna, é ali, e é ali que o ator deve morar, para trazer o
deslocamento do cotidiano. Depois realizar a escolha do totem animal,
vivenciar esse mesmo cotidiano na dimensão do tempo, espaço
artístico, isso por si só já recria o dia-a-dia, e o torna
sagrado. O ator-vampiro deve absorver todo esse estado selvagem
interior e transformá-lo em ação. Mas não numa ação comum, ele
tem que transmutá-la em uma ação extraordinária, realizando desta
forma o fenômeno.
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